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Maicon Diego Rodrigues - Museu Municipal Adelmo Trott

A ocupação das terras da região que compreende Taquara remonta à ocupação indígena. Segundo dados pesquisados pelo Marsul , há mais de 6 mil anos indígenas xockleng (também conhecidos como botocudos) e kaingangs (também conhecidos como coroados) já viviam por aqui em modo de vida caçador-coletor. Construíam suas armas utilizando ossos e rochas, mudando-se conforme as estações do ano e a oferta de alimentos. Por volta de 1000 anos antes do presente (A.P.) os guaranis chegam a estas terras produzindo lâminas de machado com pedra polida e fabricando cerâmicas. Conforme a historiadora Dóris Rejane Fernandes (2011) houve inúmeras frentes de expansão da colonização das terras da região, que atualmente considera-se “a região metropolitana” e especialmente as terras que compreendem o município de Taquara-RS. Algumas frentes partiam do Porto dos Casais (atual Porto Alegre), em direção norte e leste, outras saíam da Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos (atual Gravataí) no mesmo sentido e partiam frentes de São Leopoldo em direção norte e leste. Essas frentes de expansão foram responsáveis pela ocupação destas terras em um primeiro momento até a margem sul do Rio dos Sinos.

Entre os primeiros ocupantes destas terras temos, por exemplo, na “Serra do Pinhal”, João Garcia, Miguel Dutra e Luciano Gomes; “no caminho para o Pinhal”, encontramos Pedro Rodrigues Lima, Felisberto Pereira Dias, João Joze de Oliveira Guimaraes, Capitão Custódio Ferreira de Oliveira Guimaraens, Capitão Joze de Azevedo e o Padre Joze Fernandes do Valle. Da “Serra do Pinhal seguindo para Santo Antônio da Patrulha”, localizamos Joaquim Francisco Terras, Antonio da Terra, Antonio da Silva e Miguel Antônio Dutra. No “Pinhal Costa da Serra”, ocupavam terras Domingos Joze Dias, Antonio Cabral de Mello, João Soares Lima, Diogo Pinto e Felisberto Pereira Dias. Entre “os arroios Rolante e da Ilha e na proximidade do caminho novo da Vila de Santo Antônio da Patrulha para a serra”, Joaquim Joze de Silva e Antonio da Cunha, Antonio José da Costa, Antonio José da Costa Filho, Francisco da Cunha; “na costa do rio dos Sinos”, Antonio Borges de Almeida Leams. Dentre esses nomes, encontramos lusos, açorianos, militares, padres, comerciantes e homens comuns que caracterizam, socialmente, o avanço da frente de expansão. Os nomes das localidades, de pessoas e de pontos geográficos são os indicadores que identificam o espaço que hoje chamamos de Taquara e região adjacente ou Mundo Novo (FERNANDES in REINHEIMER [et. all.], 2011, p. 17-18).

Fernandes destaca também o espaço que por muito tempo ficou conhecido como “Mundo Novo” surgiu com o intuito de atender os interesses da Coroa Portuguesa como demonstra a passagem abaixo:

O espaço, que originalmente chamamos de Mundo Novo, surgiu da ocupação para atendimento aos interesses da Coroa Portuguesa em ocupar o sul do Brasil para garantir a posse das terras. Os registros localizados até o momento permitem afirmar que nesse espaço viviam pessoas de diversas origens: indígenas, espanhóis, açorianos, paulistas, portugueses e negros (FERNANDES in REINHEIMER [et. all.], 2011, p. 18). 

Antonio Borges de Almeida Leams percebeu a ação destas frentes e solicitou à Coroa Portuguesa uma sesmaria no local que compreende Taquara-RS no ano de 1813. A Carta de Sesmaria foi redigida em Porto Alegre no dia 23 de dezembro de 1813 sendo concedida por Dom Diogo de Souza. No ano de 1835 a “Fazenda do Mundo Novo” como Leams à denominou foi avaliada em 6:115$280 (seis contos, cento e quinze mil e duzentos e oitenta réis).

Anita Martins Fraga ao avaliar o inventário “post mortem” afirma que Leams gostava muito deste núcleo rural batizando-o então de Fazenda do Mundo Novo, já que a mesma era denominada anteriormente como “Fazenda Rural do Pinhal”, localizada do distrito da Freguesia da Aldeia dos Anjos que era pertencente à Porto Alegre. 

Após a morte precoce de Leams nas águas do Lago Guaíba em Porto Alegre, a viúva de Almeida Leams vendeu as terras da Fazenda do Mundo Novo aos sócios Jorge Eggers e Tristão José Monteiro em 18452 pelo valor de 9:000$000 (nove contos de réis). A fazenda foi transformada pelos sócios em um empreendimento imobiliário no ano de 1846 que visava alocar aos imigrantes alemães e seus descendentes que não encontraram espaço em torno de São Leopoldo. Muitas “colônias”3 foram vendidas e logo a região passou a ser importante economicamente. Ainda no ano de 1846, em 4 de dezembro, Jorge Eggers e sua esposa, Margarida, vendem sua parte na sociedade por 5:000$000 (cinco contos de réis) nas terras que haviam adquirido da viúva de Almeida Leams e mais as terras adquiridas de André Manique e sua esposa Catharina Elizabeth. “Com estas outras aquisições de terras, ficou a fazenda do Mundo Novo em poder de Tristão José Monteiro, que assim totalizou 8 títulos de terras, com a área de 32.487.500 braças quadradas (KAUTZMANN in BARROSO: MOSSMANN SOBRINHO, 2008, p. 46)”.

Assim, Tristão Monteiro contribuiu para a execução dos planos do governo imperial com a criação da Colônia do Mundo Novo. Com o intuito de alojar os primeiros imigrantes que chegariam a colônia, Tristão Monteiro mandou construir uma casa às margens do Rio Santa Maria (atual Paranhana) em terras que hoje pertencem ao município de Igrejinha. A “Casa de Pedra” ou “Stein Haus” como era conhecida entre os imigrantes alemães começou a ser construída em 1846 ficando pronta em 1847. Possuía uma dimensão de quase 500 m². Seus construtores foram Peter Johann Adams e o Dapper, auxiliados por dois integrantes da família Leão, além de inúmeros escravos.

ENGELMANN (2004, v.1, p. 237 - 281) retrata o Primeiro Censo produzido por Tristão José Monteiro onde consta os seguintes colonizadores em uma primeiro momento da colonização do Mundo Novo: Peter Nicolaus Michels, Maria Elisabeth Ritter, Franz Heinrich Müller, Kaspar Schirmer, Friedrich Kellermann, Jakob Born, Johann Nicolaus Ritter, Daniel Kirsch, Nicolaus Werres, Johann Flesch, Peter Heinrich Schwartz, Maria Catharina Paiter, Heinrich Emmerich, Johann Karl Sohne, Johann Mathias Klein, Johann Jakob Heidrich, Konrad Schäfer, Jakob Becker, Christian Scheidthauer, Valentim Bayer, Franz Christian Koch, Karolina Leiser, Heinrich Peter Koetz, Heinrich Christian Friedrich Lieppe, Catharina Schäfer, Johann Kirst, Johann Jakob Keller, Johann Adam Müller, Catharina Feck, Franz Joseph Martenthal, Philipp Jakob Lahm, Johann Wilhelm Lahm, Luís Lahm, Heinrich Watenpuhl, Cristóvão Thron, Jakob Petry, Christian Peter Ludwig, Gottfried Eberts, Friedrich Wilhelm Pohlmann, Johann Nicolau Spindler, Philipp Jakob Krupp, Friedrich Ritter, Philipp Huf, Philipp Daudt, Maria Francisca Müller, Andrea Becker, Heinrich Georg Petzinger, Anna Pfenniger, Jakob Breyer e Heinrich Schilling (alemães) e Lourenço Raymundo (italiano).

Em 1854, foi declarada a existência de 106 famílias na Colônia do Mundo Novo. A maioria dessas famílias tinham suas culturas voltadas para a produção agrícola de feijão, mandioca, arroz, milho, fumo e entre outras. O trabalho era realizado com o auxílio de forças de tração movidas pela água ou pelos animais. Tristão Monteiro relata no seu diário certa preocupação com a modernização e a exportação, para as suas atividades, um pensamento pioneiro na mudança social. 

Segundo FREITAS (2019, p. 158) muitos colonos lusos e alemães possuíam escravos e isso se comprova na “Tabela - Libertos, Forro e Contratos - 1856-1888” contida na tese de doutoramento do referido pesquisador. Nesta tabela estão listados os nomes e as condições sociais nas quais muitos estão inseridos durante aquele período. Alguns nomes constam nesta tabela como: Maria, Margaria, Maria, Thiago, Florinda, Mariana, Gabriel, Adão, Malaquias, Miguel, Celestino, Faustina, Justina, Joaquina, José, Prudêncio, Albino, Francisca, Leodada, Delfina, Raquel e Antonia. Todos classificados dentro do conceito social expresso na tabela. Logo, pode-se ver a presença afrodescendente na Taquara do Mundo Novo desde o início de sua história, ajudando a construir a história deste município.

Representantes de outros grupos étnicos também fizeram de Taquara sua morada, como é o caso do dinamarquês Bernth Hansen Holmer que chegou nestas terras em 1868 com apenas 18 anos, sendo agrimensor de profissão e fabricante de cigarros. Foi um dos fundadores da Loja Maçônica Águia Branca. Faleceu no antigo Hospital de Caridade em 1939, sendo sepultado enrolado na bandeira da Dinamarca no Cemitério Municipal . Outra etnia que se fez presente na colonização da cidade foi a suíça através do casal João Jacó Huggentobler e Luisa Adele Huggentobler, estes, moradores de uma picada que erroneamente foi denominada de Picada do Francês ou Picada Francesa, por causa deste casal. Contudo, através da pesquisa de NAISSINGER descobriu-se que, na verdade, João Jacó e Luisa Adele eram suíços e não franceses como popularmente ficaram conhecidos já que falavam francês, mas haviam nascido em Bevaix - Neuchâtel - Suíça, mas herdaram o idioma do período histórico conhecido como Era Napoleônica, momento em que a região citada estava sob domínio francês.

Depois de algumas reviravoltas e influências políticas junto à capital do Estado, Taquara-RS (sede) se torna Vila e ganha o status de emancipada. A partir daí o município foi se afirmando como um centro econômico e político, permanecendo emancipado, diferente de Santa Cristina do Pinhal, que havia sido o município mãe de Taquara, mas que perdeu forças políticas e retornou à condição de distrito de “seu filho”. A Colônia do Mundo Novo cresceu rapidamente, passando a vivenciar um processo de urbanização, em um local definido como décimo segundo quarteirão, com a ocupação dos lotes e a concentração populacional. No local concentram-se comerciantes e artesãos. Predomina a mão de obra familiar, envolvendo mulheres e crianças como trabalhadores livres, jornaleiros e agregados (FERNANDES in REINHEIMER; [et. all] (orgs), 2011, p. 32-33).

Em 27 de maio de 1882, Taquara foi elevada à condição de “Freguesia da Taquara do Mundo Novo” através da Lei provincial nº 1382. Passados mais quatro anos, a Freguesia torna-se “Villa da Taquara do Mundo Novo” com o decreto de 17 de abril de 1886, mantendo os domínios territoriais acordados com a lei anterior. Conforme Mossmann Sobrinho a formação da primeira Câmara de Vereadores da recém criada cidade foi capitaneada pelos seguintes políticos: Frederico Jacobus Jr.; Júlio Petersen; José Raymundo; João Petry; Guilherme Korndörfer; Constan Heirich Jürgensen e Henrich Fauth (MOSSMANN SOBRINHO in BARROSO: MOSSMANN SOBRINHO, 2008, p. 58).

Ao emancipar-se, Taquara-RS, segue o modelo pioneiro que leva a modernidade e aos ideais republicanos, que logo, após 1886, se estabelecem, mudando o jogo político em nível nacional. O município se mostrou ao longo da sua história um polo importante através de sua produção e de sua economia, alcançou-se o patamar de capital nacional da produção de feijão e também de piretro.

O município prosperava e grande parte da produção econômica da região passava por Taquara, seja pelo caminho dos Tropeiros que transcorria pela rua Júlio de Castilhos e rua Dr. Edmundo Saft, então estrada para Cima da Serra; ou descia as águas do Rio dos Sinos através do porto criado na localidade conhecida como Passo do Mundo Novo em direção à São Leopoldo ou Porto Alegre. As gasolinas da Companhia de Navegação de Belmiro Fauth e do seu Fritz levavam e traziam produtos para a cidade. Também destaca-se que no Passo do Mundo Novo encontrava-se o estaleiro dos Wichmann.

Em 15 de agosto de 1903 foi inaugurada a Estrada de Ferro entre Porto Alegre - Novo Hamburgo - Taquara. O governador Borges de Medeiros foi recepcionado pelo então intendente Coronel Diniz Martins Rangel. E em 1924 João Corrêa consegue inaugurar o trecho entre Taquara e Canela.

Outro fato relevante que denota a importância da cidade no contexto daquele tempo foi a construção da nova intendência municipal em 1907. A construção da Intendência Municipal denominada hoje como Palácio Municipal Diniz Martins Rangel levou praticamente 1 ano para ser realizada, sendo inaugurada no ano em que Taquara foi elevada à condição de cidade, logo em 21 de dezembro de 1908. O valor da obra foi de 150:000$000 contos de réis custeado através de empréstimo bancário contraído junto ao Banco da Província. Foram responsáveis pela obra, o engenheiro Ildefonso Fontoura e o construtor João Cattani, além do intendente Coronel Diniz Martins Rangel.

A antiga Colônia do Mundo Novo, hoje Taquara, passou por vários ciclos de desenvolvimento econômico-comercial. O primeiro ciclo (1878-1920) foi um período de desenvolvimento, caracterizado pela agricultura praticada pelas famílias e exportada para o abastecimento de Porto Alegre. Segundo ciclo (1921-1934) talvez o mais importante dos ciclos, pois foi marcado pelo grande desenvolvimento econômico e na transformação de Padilha em um distrito de Taquara. O Terceiro ciclo (1940-1948) foi conhecido como a era do Pireto, pois em consequência da Segunda Guerra Mundial os nazistas bloquearam as exportações deste produto pelos africanos, sendo este utilizado largamente pelos Estados Unidos, que por sua vez passaram a comprar do Brasil. A produção de Piretro em Taquara, ocasionou um enorme crescimento econômico, mas que, infelizmente, foi amenizado quando acabou a guerra. O Quarto Ciclo (1949-1956) foi marcado pelo êxodo rural, o que gerou um grande crescimento urbano. O Quinto Ciclo (1956-1979) muitos moradores do interior foram atraídos para os centros urbanos pelo crescimento da indústria calçadista.

REFERÊNCIAS

BARROSO, Véra Lucia Maciel; SOBRINHO, Paulo Gilberto Mossmann (orgs.). Raízes de Taquara. – Porto Alegre: EST, 2008. Vol. I e II.

ENGELMANN, Erni Guilherme (Org.). A Saga dos Alemães: do Hunsrück para Santa Maria do Mundo Novo. Helmut Burger (coord. da trad. e revisão); Marisabel Lehn (coord. da rev. em português); Tradução de Gessy Deppe, Lily Clara Koetz, Ilson Kayser. - Igrejinha (RS): E. G. Engelmann, 2005, 3 v. (Volume I e II).

FERNANDES, Dóris Rejane. Dos caminhos de Tropeiros às moradas de favor, às Fazendas, à cidade de Taquara: História do século XVIII ao XX. In REINHEIMER, Dalva; [et. all.]. Caminhando pela cidade: apropriações históricas de Taquara em seus 125 anos. Faccat. - Porto Alegre: Evangraf, 2011. p. 15-35.

FRAGA, Anita Martins. As origens do Município de Taquara - Quais? In DARÓS et BARROSO, op. cit., p. 206.

KAUTZMANN, Maria Eunice Müller. Taquara e um pouco de sua História. In BARROSO, Véra Lucia Maciel; MOSSMANN SOBRINHO, Paulo Gilberto (orgs.). Raízes de Taquara. - Porto Alegre: EST, 2008. p. 44 - 48. (Volume I).

MOSSMANN SOBRINHO, PAULO GILBERTO. Santa Cristina do Pinhal - Taquara do Mundo Novo: movimentos de emancipação. In BARROSO, Véra Lucia Maciel; MOSSMANN SOBRINHO, Paulo Gilberto (orgs.). Raízes de Taquara. - Porto Alegre: EST, 2008. p. 44 - 48. (Volume I).

REINHEIMER, Dalva. Terra, gente e fé: aspectos históricos Taquara do Mundo Novo. (org.). – Taquara:Faccat, 2005.


Anexos
Histórico de Taquara

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